Os palops, terras de cultura

Edito

A problemática comum é : qual é a actualidade de certos objectos culturais tradicionais nos Palops?

O Peixe e a Banana

Ana FERNANDES DE ALMEIDA

No que diz respeito a esta parte, vamos dar um aspecto culinário ao nosso trabalho comum, abordando a culinária de São Tomé e Príncipe. Escolhemos abordar dois ingredientes muito importantes na cultura de São Tomé e Príncipe que são o peixe, devido à pesca, e a banana, fruto primordial na cultura deste Palop.

O primeiro ingrediente que vamos pôr em realce é o peixe na receita seguinte : O calulu. O Calulu é um prato típico de São Tomé e Príncipe mas também de Angola. Ele pode ser preparado com carne, peixe seco ou peixe fresco, entre outros ingredientes atípicos como quiabos, batata doce ou óleo de palma. O Calulu consiste numa refeição familiar quotidiana, mas, também pode ser servida em festas religiosas, nos casamentos e nas ceremónias fúnebres. O calulu é um prato consumido em todo o país.

Vamos agora divulgar a receita do Calulu de peixe:

Ingredientes:

500 gramas de camarão descascado
1dl de óleo-de-palma
1 kg de garoupa
5 quiabos
2 tomates maduros
2 beringuelas
1 ramo de manjerona
1 folha de loureiro
2 cebolas
20 grs de farinha
Sal a gosto
Piripiri a gosto

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Preparação:

Lavar e arrangar o peixe e cortá-lo em postas não muito finas. Leva-se as cebolas picadas ao lume num yacho com a beringela descascada e cortada em rondelas, os tomates picados sem pele nem sementes, os quiabos cortado ao meio, o piripiri, o molho de manjerona, a folha de loureiro, o peixe e os camarões. Deixar um pouco ferver o tacho com o testo. Cobre –se em seguida a preparação com água e deixar cozer. Mistura-se a farinha quase no fim. A farinha é desfeita com um pouco de água. Deixar engrossar o molho.

O Calulu é servido com um acompanhamento também típico que é o Angu de Banana.

Este acompanhamento introduz o nosso segundo ingrediente, que é a banana. Originária das regiões tropicais da Índia e da Malária, a banana já é conhecida e cultivada há mais de 4000 anos. Ela é dita “ A Musa paradisíaca”. A banana chegou ao conhecimento dos portugueses àtravez dos árabes e o nome que eles lhe deram tem o significado de “dedo”.´Ela conquistou o mundo quando Tomás Berlonga levou a Banana aos novos povos e aos seus agricultores. A sua expansão deu aumento a economia desses novos países da América do Sul. O seu cultivo faz-se com rizomas porque a banana não tem sementes. A banana é plantada durante a estação da chuva e a bananeira cresce quando há muito sol. Um único cacho de banana pode dar 5 a 40 kilos de banana. O maior productor de banana do mundo é o Brasil. A banana contém muitas vitaminas como A, B1, B2, B5 e C. Ela é recomendada para todas as idades, todos os bolsos, sendo considerada como um alimento muito saboroso, saudável, substancial e nutritivo.

O Angu de banana era na sua origem preparado pelos escravos e acompanhava pratos de peixe, como no nosso exemplo.

Receita do Angu de banana:

Ingredientes:

2 dúzias de banana
4 dentes de alho amassados
1 cebola média picada
Sal a gosto

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Preparação:

Cozer as bananas com a pele. Uma vez cozidas e descascadas espremê-las num espremedor de batatas. Depois acrescentar o alho e a cebola e fritar junto com as colheres de óleo. Acrescentar às bananas a cebola e o alho e misturar durante 3 minutos e abafar a panela mais 3 minutos.

Escolhemos dois ingredientes que fazem parte da cultura de S.Tomé e Príncipe, mas podemos dizer, e mesmo afirmar, que também fazem parte da cultura de todos os outros Palops. Sabemos também que esta cultura perdura e ainda é hoje muito respeitada. Estes dois pratos típicos de São Tomé e Príncipe ainda fazem concorrência às grandes distribuições como Mac donald's.

http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/culinaria-de-sao-tome-e-principe/culinaria-de-sao-tome-e-principe-2.php (12/03/2010)

O calulu filmado : http://www.youtube.com/watch?v=lirFkUFCQu0 (10/03/2010)

http://pt.wikipedia.org/wiki/Calulu (12/03/2010)

http://www.asemana.publ.cv/spip.php?article44617 (18/03/2010)

http://www.coresesaborestropicais.hpg.ig.com.br/Banana/banana.htm (18/03/2010)

**A arte Angolana**: as máscaras

Marina MATILDE DE MIRA

As máscaras no contexto da cultura desse país.

Eu penso fazer uma redação em relação aos diferentes tipos de máscaras que existem em Angola e os seus significados. Vou fazer uma descrição de algumas máscaras.

As máscaras : elementos tradicionais da cultura africana.

Em Angola, cada grupo etnolinguístico tem os seus próprios traços artísticos originais. As máscaras têm um papel muito importante nos rituais culturais, representam a vida e a morte ; a passagem da infância à vida adulta ; a celebração duma nova colheita e o começo duma nova estação. Elas podem ser trabalhadas com diferentes matérias, como a madeira, geralmente, o bronze, o marfim… Foram os objetos que impressionaram mais os europeus desde as primeiras exposições em museus do Velho Mundo, através de milhares de peças saqueadas do patrimônio cultural da África. Portanto não teve quase nenhum reconhecimento do seu significado simbólico. Vou então tentar esclarecer esse ponto, explicando brevemente o significado das diferentes máscaras que encontramos em Angola.

A máscara transforma o corpo do bailarino que conserva sua individualidade e, servindo-se dele como se fosse um suporte vivo e animado, encarna outro ser: gênio, animal mítico que é representando assim instantaneamente. Uma máscara é um ser que protege quem a carrega. Está destinada a captar a força vital que escapa de um ser humano ou de um animal, no momento de sua morte. A energia captada na máscara é controlada e posteriormente redistribuída em benefício da coletividade. Como exemplo dessas máscaras destacamos as Epa e as Gueledeé ou Gelede.120px-gelede1.jpg

A máscara “Epa”: é uma máscara elmo confeccionado em madeira. Existe vários tipos, depende das tribos. Sua base cobre toda a cabeça do portador e é apoiada no ombro dele. Sobre o capacete, há uma plataforma composta de figuras. O trabalho é realizado em uma única peça: o elmo, o platô e um tronco central que representa um tema, circunstância ou acontecimento. Outras figuras podem ser entalhadas ao redor por meio de resinas, desde a plataforma do elmo. Este contrasta pela simplicidade, pois representa somente os olhos e algum outro detalhe facial. Os olhos de forma amendoada, com duas bordas, tem o globo ocular vazado para indicar as pupilas. Algumas máscaras tem duas ou mais plataformas com figuras superpostas. Este tipo de máscara foi criada pelo rei africano Monaco no século XV, quando este proibiu o uso de folhas como forma de cobrir o rosto. Seus servos não aceitaram a nova máscara mas com o tempo acabaram se acostumando.

A máscara “pwo” ou “mwana pwo” simboliza o antepassado feminino e aparece nas danças propícias à fecundidade. É levado por um homen que mima a dança das mulheres e aprende-as a graça das maneiras. Ela é sempre levada por homens que são transformados em seres poderosos. chokwe_fem_pwo_mask_a.jpg A sua exibição frente à assembléia da aldeia tem um caráter mágico: trazem prosperidade e fecundidade. Mas se for dominado pelos bruxos, podem virar “wanga” maléficos. A aquisição da máscara é uma espécie de casamento místico. O dançarino dá ao escultor um anel de cobre, preço simbólico da “noiva”. Esse casamento tributa obrigações morais e rituais. Depois da morte do dançarino, a máscara é enterrada com medo supersticioso. E essa máscara nunca poderá ser servida. A exibição da máscara feminina dispensa a fecundidade aos espectadores. O dançarino tem falsos peitos, uma saia, uma cintura de pérolas e a dança consiste em aprender a graça das maneiras estudando os gestos que ele faz. A máscara deve ser esculpida segundo as normas e refletir a idéia dos espíritos antepassados. No entanto, algumas são individualizadas, o escultor pega uma certa liberdade em relação as caras( nariz, boca, orelhas…). O artista inspira-se da fisionomia duma mulher admirada pela a sua beleza. Mas ele trabalha longe dos olhares femininos, então ele observa longamente seu modelo. Ele até pode passar dias e dias a observá-la.

A máscara “ cihongo” é a máscara masculina do “pwo”.arte-mascara_252520cokwe_cihongo_jpg.jpg

Têm uma proximidade estilística evidente nos traços da cara: a testa bombada, marcado pela cruz de São André, as orelhas ornadas de brincos de metal, os olhos meios-fechados, com lágrimas, a mesma forma de nariz….

O cihongo é a representação do espírito masculino evocando o poder e a riqueza. É um espírito que traz prosperidade na aldeia. Antes, só o chefe ou o filho do chefe podia pô-lo. Essas máscaras são sobre montadas em forma de leque, ornado de penas. O seu trajo era composto dum fato em ráfia tricotado com mangas longas e colantes. Por cima, uma saia em fibras que ritmava os movimentos. Ele efetuava uma rodada da danças como a máscara “pwo”, ele colhia numerosos dons dos habitantes para ganhar as graças.

Aqui fiz uma apresentação de algumas máscaras conhecidas, é panorama da função e do significado das máscaras em Angola. Mas eu queria falar dum sujeito importante também, é a industrialização das máscaras em relação ao turismo.

Antes dos anos 80, todo o marketing dos artesãos estava sob o controle de Artiang, um braço do ministro da cultura. Entretanto uma vez que este monopólio comercial sobre a produção da arte foi removido, a arte em Angola floresceu. Enquanto as máscaras e as estátuas de madeira da África cresceram na popularidade no oeste, a indústria do artesanato em Angola procurou atender a demanda por arte africana. As máscaras e as bugigangas estilizadas, que são criadas para capturar o olho de um turista, são conhecidas geralmente como “a arte aeroporto”. São partes produzidas em série, ao gosto do turista médio, mas faltam todas as ligações reais com as tendências culturais mais profundas dos povos. Um dos maiores mercados de artesanato em Angola é o mercado de Futungo, logo ao sul de Luanda. Isso quer dizer que hoje em dia, a máscara está perdendo o seu verdadeiro sentido, a sua verdadeira função com o turismo. Estão sendo comercializado e o significado não é o mesmo e poderíamos até dizer que não têm mais nenhum significado. Mas nas tribos, é completamente diferente, os rituais pertencem ainda, e sempre existirão. A arte da máscara é muito importante para esses grupos. É uma forma de respeito em relação aos antepassados. A máscara é um elemento tradicional da cultura angolana e africana A máscara, independentemente de sua localização geográfica, aparece na história da humanidade desde às épocas mais remotas. Ao que tudo leva a crer, um dos seus primeiros elementos motivadores seria uma exigência mágico-religiosa, ligada às necessidades da vida cotidiana.

E para acabar, podemos perceber o valor que a máscara exerce na sociedade angolana, também como um elemento regulador da manutenção da ordem social e em certas ocasiões. E também, não podemos esquecer de uma figura importantíssima no fabrico das máscaras que é o artesão.

Bibliografia:

http://www.camacupa.com/dnn/Portals/0/Gallery/854/M%C3%A1scara%20de%20Tchinganje%20(10).jpg

http://www.sanzalangola.com/etno020BB07.php

http://www.museuantropologia.angoladigital.net/artigos/mascaras.htm

http://images.google.fr

http://www.scribd.com

http://detoursdesmondes.typepad.com/dtours_des_mondes/2006/05/les_masques_cih.html

Cabo Verde e sua Morna (Sandrine)

Sandrine

A morna é uma forma musical de Cabo Verde. Este género musical é o mais velho deste arquipélago e sobretudo é o que mais identifica o povo cabo-verdiano.

A morna reflecte a realidade do povo cabo-verdiano, “o romantismo intoxicante dos seus trovadores” (expressão muito usada) e o amor a terra. Elas evocam como o blues, a descriminação e a nostalgia dum passado distante. É a expressão da saudade, este sentimento vago de melancolia e tristeza que caracteriza o povo cabo-verdiano. A morna é um género musical lento e calmo. No entanto ela tem uma estrutura rígida composta por um ou vários refrãos seguindo por um ou vários coros. A morna é muito marcada pelo romantismo europeu na sua forma de se exprimir. O seu processo de formação teria sofrido das influências musicais do barroco, do classicismo e do romanticismo. A morna tem igualmente a influência do fado de Lisboa com a utilização do violão português, o cavaquinho.

Atribuímos as origens da morna a cidade de Boavista nos anos 1870. Brada Maria, uma composição anónima de 1870, é a morna a mais conhecida hoje em dia. Ela relata a desventura duma jovem abandonada pelo seu grande amor. Na burguesia local de Boavista, o piano encontra o seu lugar nos salões onde vai ser utilizado para compor as primeiras mornas. Elas começam depois a deixar as casas de ricos para tornar-se mais popular. O violão facilitou essa mudança e torna-se com o cavaquinho e o violino, os instrumentes idiomáticos da morna. No início em Boavista, o género era satírico e trocista. A morna deixou Boavista para tornar-se uma música cantada e dansada em todo o país.

Ela não levou muito tempo para chegar às outras ilhas mas foi em Brava com o poeta Eugénio Tavares e em São Vicente com B.Leza entre 1915 e 1940 que essa música evoluiu para tornar-se um género musical. A morna cantada para as partidas foi popularizada nos anos 1920 na ilha de Brava com o compositor Eugénio Tavares. Com o poeta de Brava, a revolução se fez sobretudo no nível dos textos enquanto com B. Leza ela se fez no nível musical.

A passagem da morna em Brava e seu encontro com Tavares fez evoluir os textos, agora os textos são cantados em kriulo e não em português. Essa decisão aparentemente inofensiva de cantar em kriolu rompe com quatros séculos de dominação portuguesa. Mas as influências ficam ainda lusófonas. A morna é uma mistura do fado pôrtuguês, do modinha brasileiro, influências angolanas mas também das distantes baladas da marinha britânica. Até o nome de morna vem de « mourning » luto em inglês. Doravante o homen canta o amor, a mulher, a emigração…

A morna se instala depois em Mindelo com o compositor B.Leza, agora ela evoca a beleza deste arquipélago árido, a mãe, a partida para outros céus, a saudade, a noiva e a morte. B. Leza é o primeiro compositor de morna a denunciar o sofrimento humano e a opressão colonial no mundo. Com ajuda do seu violão, que ele tinha feito fabricar em Portugal, ele indroduze o meio tom na morna e a fixa na sua forma moderna. As suas obras inspiraram os compositores e interpretes como Celina Pereira, Titina e particularmente Bana.

O cabo-verdiano gosta da sua ilha e de seu arquipélago, ele exprima essa paixão através de suas canções. A história da morna foi igualmente escrita por outros músicos famosos. Com a entrada em cena de cantores, a morna impo-se como o género o mais representativo do Cabo-Verde. Em homens há o incontornável Bana que gravou mais de 60 discos, Morgadinha, Djosinha e Tito Paris… Em mulheres, elas chamam-se Maria Teresa, Titinha, Nha Orela e a mais famosa de todas Cesária Évora. Cesária Évora imortalizou a morna. Toda a nostalgia das partidas passa pelas mornas, a maneira da famosa canção Sodade. Ela canta o amor, o diário e o spleen duma ilha esquecida ou quase. Ela consegue fazer conhecer o seu pequeno país no mundo inteiro nos anos 1990. Agora a morna está popularizada ao nível internacional. O timbre de voz desta diva tem conquistado e alargado o público da morna do mundo. Há também uma nova generação com Maria Alice que se produze em Lisboa e o grupo das três mulheres, Simentera. Durante os ultimos anos a morna, esse género musical do Cabo Verde, fez-se conhecer no mundo inteiro nomeadamente em Paris e nos Estados Unidos.

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Mas a morna não é so uma música é também uma dança. A dança da morna conheceu os seus anos de riqueza nos anos 1930-45. Há duas formas de danças. Uma forma lenta onde o casal fazia dois passos para frente e depois dois passos para traz, e uma forma mais viva chamada estrimbolca.

Bibliografia e sitografia:

http://www.lusoafrica.net/v2/index.php?option=com_content&view=article&id=46&Itemid=204 (21/02/2010)

http://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%BAsica_de_Cabo_Verde (21/02/2010)

http://www.afrisson.com/Morna-1676.html (21/02/2010)

Les musiques du Cap-Vert, Vladimir Monteiro, Chandeigne, 1998

L'épopée de la musique africaine, Florent Mazzoleni, hors collection, 2008

Um evento tradícional (casamentos em Angola)

Manon Chanonat

Angola, antigamente colónia portuguesa, tem cultura e ritos diferentes de Portugal. Vou apresentar um rito angolano particular e muito praticado : o casamento chamado “alembamento” ou “nkama longo” (como é chamado pelos membros do grupo Bakongo) ou “ilembu” (como é chamado pelos membros do grupo mbundu).

Posso começar com a definição do dicionário da Língua portuguesa (infopédia) : “tributo de honra que o homem presta à família da noiva; dote (Do kimbundu ilembu, de kilembu, «dote»)”

Radcliffe Brown, um antropólogo e etnógrafo britânico do início do século XX e Forde Daryll afirmam na obra “Sistemas familiais e matrimoniais em África” que “um casamento engloba o pagamento de uma prestação do noivo ou pelos seus parentes ao pai ou ao representante da noiva”.

Assim, o alembamento é uma cerimónia muito importante na sociedade angolana que marca a data do casamento de dois pessoas que não vão formar uma nova família porque o alembamento é considerado como uma aliança pública entre famílias. Pode organizar o alembamento unicamente depois de ter fixar uma “carta do pedido”.

pais45_lr_98.jpg A carta do pedido é uma lista de bens escrita pelos pais e tios do noivo para oferecer à família da noiva. Consideram esta carta como uma indemnização. Nesta lista, podemos encontrar mais frequentemente o fato para o pai da noiva, fatos para os tios, panos para as tias, cerveja, vinho, gasosa, cabrito, boi e ainda dinheiro que pode variar entre as poucas centenas e os milhares de dólares ou alguns artigos simbólicos. Depois da verificação da presença de todos os bens inscritos na carta do pedido, o noivo é chamado à cerimónia onde é proposta uma data para o casamento.

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Pode-se ver um exemplo de carta do pedido no link seguinte : http://angolaxyami.blogspot.com/2009/10/lista-de-pedido-de-alembamento-parte.html

O alembamento é um evento muito importante pela população angolana porque esta cerimônia mostra a valorização e a importância da mulher na sociedade e da família que a funda. Em efeito, é a mulher que trabalha a terra e que gera os filhos.

O alembamento é considerado como um a garantia do contrato de casamento, porque em caso de divórcio, a noiva e a sua família devem restituir todos bens recebidos graça à « carta do pedido » ao noivo.

A cerimónia do alembamento é muito ritualizada. Em primeiro, as famílias do noivo e da noiva se encontram onde são recebidos os presentes e apresentados os noivos às famílias.

Um exemplo de um mais velho natural do Kibokolo (Maquela do Zombo) de 75 anos de idade, tirado do blog de muanadamba : o homem relata que na sua época « não eram os jovens quem escolhiam as noivas, mas sim a sua família. Assim, o pai de um rapaz escolhia uma jovem de boa família para ser mulher do seu filho e segundo os parentes de ambos, o pai do rapaz levava um garrafão de maruvo ao pai da rapariga dizendo: “eu venho entregar este garrafão de maruvo, para terem conhecimento de que a vossa filha será a futura mulher do meu filho e mais ninguém pode ocupá-la”. »

Os casamentos são diferentes dum grupo étnico ao outro. Em todos grupos existem usos e costumes comuns mas ha também específicas particulares.

Hoje, muitas pessoas dizem que a prática do alembamento perde o seu valor porque os jovens querem estar como os jovens dos países desenvolvidos e esquecem os ritos e a cultura do país.

Sitografia:

http://muanadamba.over-blog.com/article-o-alambamento-na-tradi--o-bakongo-37323020.html

http://www.fd.ul.pt/Portals/0/Docs/Institutos/ICJ/LusCommune/MbambiMoises1.pdf

http://www.opais.info/pt/opais/?det=5403

http://www.angonoticias.com/full_headlines.php?id=18347

http://images.google.fr/imgres?imgurl=http://www.opais.net/resources/images/2009pais/edicao_47/pais%252047_lr_167.jpg&imgrefurl=http://www.opais.net/pt/opais/%3Fdet%3D5996&usg=__7YD7ppEgjU43kADp6tXZgaUP_6g=&h=220&w=297&sz=25&hl=fr&start=11&um=1&itbs=1&tbnid=cMgjgrSHY_KFPM:&tbnh=86&tbnw=116&prev=/images%3Fq%3Dalembamento%2Bangolano%26um%3D1%26hl%3Dfr%26client%3Dfirefox-a%26rls%3Dorg.mozilla:fr:official%26tbs%3Disch:1

Teatro tradicional : Tchiloli de Principe

Blandine

O tchiloli é uma tradição dos povos de São Tomé e Príncipe. Trata-se da encenarização de uma peça de teatro portuguesa, Auto de Floripes, que foi importada pelos colonizadores para o seu divertimento. No passado esta peça foi assimilada pelos escravos e desde então não deixaram de a representar, acompanhando o espectáculo de todos os acessórios e trajes associados a este drama europeu.

A história representada é a de Carlos Magno, obrigado a condenar o próprio filho à pena de morte porque matou o duque de Mântua. Diz-se que na peça, Carlos Magno representa o rei de Portugal, um rei justo, mas distante, seu filho, as autoridades coloniais qui dirigem o país, e a família da vítima (o duque de Mântua) representa a população Santomense, oprimida pelas autoridades coloniais.

O interesse deste evento é entre outros conferido pelo anacronismo latente : os acessórios utilizados foram recuperados ao longo dos séculos ou fabricados a partir da imaginação dos actores, o que nos permite ver durante a representação espadas, capas de veludo, trajes de reis, ao pé de máquinas de escrever, advogados e, hoje em dia, telemóveis. Da mesma maneira, ao texto original, escrito em português antigo, acrescentaram-se ao longo do tempo partes reescritas em português moderno. Estas características fazem deste espectáculo algo único e muito particular, entre modernismo e tradição, pragmatismo e espiritualidade, vida e morte.

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Podemos dizer que o Tchiloli de São Tomé é uma marca de aculturação. A aculturação é um fenómeno de « reinterpretação » : quando duas culturas totalmente diferentes, uma dominante (o colonizador) e uma dominada (ou receptor, a colónia) vêm a encontro uma da outra, efectua-se da parte da cultura dominada uma selecção por entre as características da cultura dominante. Ou seja, neste caso, São Tomé integrou e reinterpretou a representação desta peça de teatro europeia trazida pelos portugueses que era estrangeira à sua cultura e adaptou-a às suas necessidades.

Um bom actor de tchiloli não é reconhecido pelo seu talento. Diz-se que, se representou particularmente bem, é porque estava “possuído » pelo espírito de um antepassado que já tinha representado este papel. Isto pode ser explicado pela necessidade, durante a colonização, dos Santomenses de praticar o seu culto aos mortos, proibido pelos portugueses colonizadores. Conseguiram, com o Tchiloli, desviar uma tradição europeia para o seu proveito. Trata-se portanto de uma re-interpretação num processo de aculturação.

Segundo a antropóloga Françoise Gründ, especialista do Tchiloli, existem hoje em dia nove grupos de Tchiloli, entre os quais três são muito activos : os grupos Formiguinha da Boa Morte, Tragédia Florentina de Caixão Grande e o de Riboque. E um argumento forte no turismo, porque o seu carácter único atrai a curiosidade do Ocidente. Dia 27 de Maio de 2000, o grupo de tchiloli Formiguinha de Boa morte veio a França, onde várias representações tiveram lugar. O tchiloli tem efectivamente muito sucesso, nacional e internacionalmente.

O tchiloli é portanto um ritual que ao longo dos anos, foi primeiro uma marca de desobediência ao colono, quando os escravos o representavam para poderem executar o seu culto aos mortos de maneira implícita, antes de se tornar uma tradição que perdurou no país, transformando-se em parte integrante da cultura Santomense e enfim de ser uma das principais características do país e de ser um factor de turismo.

Bibliographie:

Jean-Yves Loude, Coup de théâtre à São Tomé, Actes Sud, 2007

Sitographie:

http://stomepatrimonio.blogspot.com/2008/03/tchiloli.html

http://www.youtube.com/watch?v=fwZvU781aeQ

http://www.uea-angola.org/artigo.cfm?ID=666

Marimba e Timbila.

Silvia

A marimba é uma espécie de xilofone. É um instrumento idiófono, e é constituído por lâminas de madeira afinadas, amplificadas por intermédio de tubos ou cabaças, que assumem uma função de caixa ressoadora. Existem diferentes tipos de marimba espalhadas no planeta. Há grupos de timbilas e orquestra, talvez a mais conhecida seria a Timbila Muzimba. Este instrumento ainda está bem presente em Moçambique mas qual será seu futuro?

A palavra “marimba” vem do termo Madimba em Kimbundu e Ndjimba em Côkwe. A marimba é uma espécie de xilofone. É um instrumento idiófono, e é constituído por lâminas de madeira afinadas, amplificadas por intermédio de tubos ou cabaças, que assumem uma função de caixa ressoadora.

Existem diferentes tipos de marimba espalhadas no planeta. Por exemplo em África há o Kilangay ou xilofone de pernas do País Bara de Madagáscar, a Timbila, a Varimba e a Mbila, em Moçambique e o xilofone Silimba, no Congo. Depois nas Américas há a marimba mexicana, a marimba de Chiapas, a marimba da Guatemala, a marimba de Chonta.

Existem variantes da marimba, que vão dos xilofones directos, que são considerados como os mais antigos, aos xilofones curvos que têm quinze a dezanove teclas. Cada xilofone compreende um número variável de lâminas de madeira dura, que podem medir até perto de um metro de longo para aos instrumentos mais graves. O som de cada lâmina é amplificado por um ressonador que vibração traz ao instrumento a sua sonoridade específica.

A marimba pode ser tocada por dois ou três mestres ao mesmo tempo que com as mãos os jindanji já Kuxita mandimba (= varas preparadas com ndundo ou borracha para tocar nas teclas). A marimba joga-se de pé, com dois pares de varas. Entre os métodos de tomar as varas nas mãos, há “o Stevens” e “o Burton” (são os nomes dos seus inventores). Certos músicos podem manipular até seis varas (três em cada mão).

A marimba também é conhecida por a palavra “timbila”. Esta palavra designa um tipo de marimba da região de Zavala, em Moçambique, e também a orquestra de timbilas de nomes diferentes como: Chilanzane, Sanje, Debiinda, Chikhulu.

Os Chope vivem principalmente na província de Inhambane no Sul do Moçambique, e são conhecidos por a sua música orquestral. As suas orquestras são compostas de cinco a trinta xilofones de madeiras chamados timbila (mbila ao singular), de dimensões e tonalidades diferentes.

Os músicos são ao mesmo tempo mestres e aprendizes, as crianças jogam ao lado dos seus avôs. Assim na orquestra, todas as gerações confundem-se.

Cada ano, são compostos e interpretados vários pedaços novos, quando há casamentos e outros acontecimentos sociais. Os ritmos, de cada tema, são extremamente complexos de modo que o músico execute frequentemente ritmos diferentes com cada mão. É uma música de divertimento por ocasião de casamentos e festa, mas os mbila ou mbiras intervêm também em cerimónias de comemoração dos antepassados. A música das orquestras de timbila testemunha de uma tradição bem viva e em perpétua renovação. Com efeito, cada ano, os mestres de timbila enriquecem o repertório de peças novas que são jogadas quando há festas na aldeia e nos casamentos. As composições, que duram perto de uma hora, alternam solos e partes orquestrais sobre diferentes ritmos. As danças timbila associadas à música são executadas por dois a doze dançarinos na frente da orquestra. Qualquer concerto de timbila começa pelo “m’zeno”, um canto solene entoado pelos dançarinos que os músicos acompanham em surdina sobre um ritmo lento. Os textos, frequentemente sarcásticos, evocam com humor os problemas sociais contemporâneos e tornam conta dos acontecimentos ocorridos na comunidade. A maior parte dos jogadores experientes de timbila são idosos. Vários mestres começarem a formar jovens músicos e a integrarem raparigas nas orquestras e grupos de dança, os jovens perdem cada vez mais o contacto com este património cultural. Além disso, o desflorestamento rarefaz a madeira necessária para produzir a sonoridade específica destes instrumentos. As orquestras de Timbila das comunidades Chope foram propostas e aceitas pela UNESCO como património imaterial mundial da humanidade. Este estatuto compromete o Moçambique a assegurar um apoio e uma protecção jurídica à uma tradição musical de grande riqueza, mas progressivamente abandonada. Cada ano, à primavera, o festival de Timbila de Zavala, no meio da região Caneca, reúne as melhores orquestras de Timbila. Durante este encontro dos amigos, as orquestras apresentam as suas novas criações e medem-se uns aos outros. Jovens músicos integram os timbilas no World Music e orquestras e produzem-se internacionalmente como o conjunto Teu Zandamela Zambèze ou o grupo Timbila Muzimba que é uma orquestra musical que surgiu no dia 6 de Agosto de 1997. Ela partiu de uma visão artística de um grupo de jovens músicos e bailarinos Moçambicanos do bairro do Jardim, nos arredores da cidade de Maputo. Este grupo tem vindo a testar as possibilidades de combinar instrumentos musicais, ritmos e melodias tradicionais com contemporâneos.

Esta tradição cultural tem sofrido muito em Moçambique, com as sucessivas guerras. De facto Moçambique teve um processo difícil de descolonização, e depois uma guerra civil que deitou tudo abaixo, sobretudo ao nível social e cultural. As práticas musicais associadas à Marimba como muitas outras tradições culturais foram afectadas de uma forma negativa por este período de guerras. Hoje em dia a prática de marimba é rara. Isto também do facto que os jovens em Moçambique se afastam de se desinteressam destas tradições culturais, o que conduz a um risco de extinção. Assim o número de intérpretes está a diminuir e os construtores dos instrumentos também diminuem.

E como há uma grande falta de aprendizes daqui a umas décadas pode já não haver ninguém que saiba os segredos da sua manufactura.

Hoje em dia, a marimba continua a assumir o seu papel nas diferentes cerimónias que vão desde as fúnebres, aos rituais de iniciação, casamentos, ou em momentos íntimos de laser. As músicas das mbiras são canções de crítica social, também como uma maneira de se exprimir das coisas que vivem. Cada cerimónia tem músicas específicas que traduzem o sentimento de alegria, de tristeza ou de infortúnio. Hoje em dia, a marimba continua a assumir o seu papel nas diferentes cerimónias que vão desde as fúnebres, aos rituais de iniciação, casamentos, ou em momentos íntimos de laser. Podemos citar como marimbeiros actuais :

  • Keiko Abe
  • François da Madeira
  • Michael Burrit
  • Lionel Pequeno
  • Jean Geoffroy
  • Alex Jacobowitz
  • Momoko Kamiya
  • Laurent Mariusse
  • Katarzyna Mycka
  • Eric Sammut
  • Philippe Spiesser
  • Leigh Howard Stevens
  • Gordon Stout

A marimba seguiu uma transformação aos longos dos anos e encontra-se hoje em dia nas orquestras sinfónicas de música clássica. Dois instrumentos bastantes diferentes mas com o mesmo nome. Assim a marimba ainda é um instrumento que tem o seu lugar no Moçambique mas também no mundo. Vários compositores europeus de musica clássica,do século XX, interessaram-se à marimba, como:

  • Darius Milhaud, que compôs Concerto para marimba, vibrafone e orquestra em 1947
  • Erkki-Sven Tüür que compôs Ardor e concerto para marimba e orquestra, em 2001-2002
  • Bernard Cavanna, a quem se deve um Trio para clarinete baixo, marimba e contrabaixo (2001).

A marimba ainda é bem presente na cultura e nas tradições do Moçambique. Mas talvez o facto de ter cada vez menos aprendizes jovens poderá ter uma parte de responsabilidade na perda dos segredos da fabricação da marimba e da sua historia cultural e tradicional?

Sitografia:

http://noticias.sapo.ao/info/artigo/1044850.html (10/03/10)

http://www.drumming.pt/culturas.htm (orquestras de timbila) (10/03/10)

www.amigos-de-mocambique.org/connaitre/patrimoine.htm (10/03/10)

www.mcm.asso.fr/site02/festival/fi2007_mozambique.htm (10/03/10)

www.adem.ch/concerts07/timbila.html (10/03/10)

http://fr.wikipedia.org/wiki/Marimba (10/03/10)