Alguns escritores dos Palops

Filomena Embalo

Hugo

De nacionalidade guineense, Filomena Embaló nasceu em Angola, em 1956, filha de pais cabo-verdianos. Em 1975, os acasos da vida levaram-na de Angola para a Guiné-Bissau, país que adoptou e em cuja labuta dos primeiros anos de independência se forjou a faceta guineense da sua identidade. Formou-se em Ciências Económicas em França e ocupou cargos na Função Pública bissau-guineense, no país e no exterior. Actualmente trabalha em Paris, na organização intergovernamental União Latina. Tem publicações em revistas e jornais de artigos sobre a economia guineense e literários. As encruzilhadas do seu percurso multicultural inspiraram o seu romance, “Tiara”, editado em 1999. “Carta Aberta”, uma recolha de contos e textos seus, foi publicada em 2005. « Coração cativo », saído do prelo em 2008, é o seu primeiro livro de poemas.

Sonho Infinito

Trouxa ao ombro
Lá vai o Passado
Costas vergadas
Carga pesada
Ignorância
Miséria
Guerras
E Fome
Partiu para longe
Destino sem fim
Longe do Homem
Tão massacrado há anos mil!

Caminha, caminha
O passo arrastado
Cruza o Futuro
De passo apressado
Ligeira, ligeira a sua carga
Sabedoria
Abastança
Saciedade
E paz
Caminha, caminha
O passo ligeiro
Espera-o o Homem
Encontro marcado há anos mil!

Mia Couto

Julien

Mia Couto do seu verdadeiro nome António Emílio Leite Couto é um autor moçambicano de língua portuguesa. Nasceu em Moçambique, na cidade de Beira no día 5 de Julho de 1955. Os seus pais eram portugueses que decidiram emigrar para Moçambique durante o século XX. Alguns dos seus poemas foram publicados no Jornal Notícias da Beira quando tinha apenas quatorze anos. Em 1971, tinha dezessete anos, decidiu partir estabelecer-se na capital Lourenço Marques, conhecida agora pelo o nome de Maputo. Fez estudos de medicina mas abandonou rapidamente esta vocação para exercer a profição de jornalista para A Tribuna depois da revolução dos Cravos que aconteceu no día 25 de Abril de 1974 até 1975. Depois deste ano, foi nomeado diretor da Agência de Informação de Moçambique.

O seu género literário inclui o realismo, o mágico e ficções históricas, e é um autor que escreve vários tipos de literatura, que seja poesia, contos, crónicas e romances e podemos citar algumas das suas obras:

  • como poesia, podemos encontrar Raiz de Orvalho, publicado pela primeira vez em 1983.
  • como contos, existe por exemplo Contos do Nascer da Terra publicado em 1997.
  • como crónicas, podemos ler O País do Queixa Andar de 2003.
  • e por fim como romance, há A Chuva pasmada de 2004.

Evidentemente, são exemplos porque é o autor moçambicano mais traduzido no mundo porque as suas obras são traduzidas em alemão, em francês, em italiano, em espanhol, em catalão e em inglês. É por isso que é uma personalidade muito conhecida em Moçambique por ser um dos maiores autores de língua portuguesa que ganhou prémios nacionais.

Bibliografia:

Manuel António de Sousa Lopes

Jaitza

Manuel António de Sousa Lopes é originário de Mindelo, nasceu em 1907 nessa cidade portuária da ilha de São Vicente em Cabo Verde. Jovem conheceu a significação da emigração, ele e a sua família tiveram que deixar a ilha em 1919 para fixar-se em Coimbra (Portugal). Mas em 1923 retornou para o Cabo Verde como telegrafista da companhia de Italcable, que fechou-se por causa da segunda guerra mundial. Depois conseguiu a cadeira de tesoureiro da Câmara Municipal de São Vicente. Retomou seu trabalho como telegrafista na Western Telegrap, primeiro em São Vicente, e depois na ilha do Faial nos Açores(1944) onde publicou o seu primeiro livro de poemas. Finalmente em 1956 foi transferido para Cascais, Portugal, onde reformou-se e quedou-se a viver.

“Poeta sensível e ensaísta perspicaz”,distinguiu-se mais pela ficção de seus escritos, que conduziu-o a criar personagens fictícios muitas veces relacionavam-se com a historia do Cabo Verde. Diz-se que o desenraizamento precoce que sofreu aos 14 anos quando partiu para Portugal, marcou o seu espírito mostrando um sentimento de nostalgia através de seus escritos e especialmente de sua poesia. Quando volto para Cabo Verde, a cultura mindelense da época favoreceu-o: “tertúlias”, “paródias”, actividades desportivas, os filmes americanos.

Em 1936 no Mindelo, surgiu a revista cultural e literária “Claridade” , foi o “movimento intelectual cabo-verdiano mais marcante e influente até hoje”. Esta revista respeitava uma única cláusula: tratar assuntos com respeito o povo cabo-verdiano, já sejam de âmbito cultural, social o cultural. Aqui começa a luta para encontrar a identidade cabo-verdiana, e alcançar a emancipação de suas raízes portuguesas. Claridade foi o instrumento da literatura cabo-verdiana para dar-se a conhecer, e também marcou o inicio da contemporaneidade estética e linguística nos escritos este país.

Entre as obras literárias do considerado pai fundador do modernismo cabo-verdianos encontrados:

Ficção

  • Chuva Braba, 1956
  • Publicada em Cuba (1989), tradução de Rodolfo Alpízar Castillo
  • O Galo Que Cantou na Baía (e outros contos cabo–verdianos), 1959
  • Os Flagelados do Vento Leste, 1959

Poesia

  • Poema de Quem Ficou, 1949
  • Crioulo e Outros Poemas, 1964

Prosa

  • Monografia Descritiva Regional, 1932
  • Os Meios Pequenos e a Cultura, 1951
  • Reflexões Sobre a Literatura Cabo-Verdiana, 1959
  • As Personagens de Ficção e Seus Rodelos, 1973

Sitografia:

José Luandino Vieira

Lise

José Luandino Vieira do seu verdadeiro nome José Mateus Vieira da Graça é um escritor angolano. Nasceu o 4 de Maio de 1935, na Lagoa do Furadouro em Portugal.É filho de pais portugueses que eram muito pobres.
Com os seus pais partiu para Luanda em Angola, enquanto tinha apenas 3 anos. Cresceu e estudou à proximidade e mesmo dentro dos bairros africanos da Luanda. Comprometeu-se politicamente em favor da independência da Angola. Em 1961, foi preso por actividades anti-colonialistas e condenado a 14 anos de prisão. Em 1964, é transferido para o campo de concentração do Tarrafal no Cabo-Verde, aonde ficou oito anos.
Foi em 1972 em que foi liberado e colocado sob vigilância controlada em Lisboa. Após ter sido liberado, vai começar a publicação da sua obra, escrita, sobretudo, nas diversas prisões por onde passou. No domínio da literatura, foi um dos fundadores da União de Escritores Angolanos em 1975. Vai ganhar vários preços como por exemplo o Prémio Motta Veiga e o Grande Prémio de Novelística da Sociedade Portuguesa de Escritores que é o mais importante galardão literário.

Durante o seu aprisionamento no campo de concentração do Tarrafal, conheceu numerosos escritores nacionalistas angolanos, como António Jacinto, António Cardoso, Uanhenga Xitu e Manuel Pedro Pacavira. Foi influenciado na sua literatura por ter estado em contacto com estes homens. Entre estes homens, um foi realmente importante para José Luandino Vieira é António Jacinto. Este último estudou também em Luanda e lutou como José Luandino Vieira para a independência da Angola. Nas suas obras escritas, vemos bem o tema principal que é a África. Mas foi também influenciado por João Guimarães Rosa e Óscar Ribas.

Podemos mencionar algumas obras famosas de José Luandino Vieira, temos :

  • A cidade e a infância (1957), a sua primeira obra;
  • Luuanda (1963), o seu famoso livro que recebe um preço literário português em 1965. Foi proibido na Angola até á queda do governo colonial em 1974;
  • A vida verdadeira de Domingos Xavier (1974), uma novela política;
  • Nós os do Makulusu (1974 ), é para José Luandino Vieira, quase uma autobiografía.

Os seus dois livros mais importantes são : Luuanda e Nós os do Makulusu.

José Luandino Vieira é muito conhecido no seus país, tem uma grande importância porque é uma das maiores figuras de escritor deste século, em língua portuguesa. Lutou pela independência de Angola. É um personagem importante dum ponto de vista político. É também importante no domínio da literatura. Dirige actualmente a sua própria editora, em Luanda. Construiu uma língua literária muita especial, que lhe está própria. Com efeito, em Luuanda, o linguagem é muito especial dado que há um glossário em certas edições para compreender as palavras “inventadas”.

Bibliografia:

HENRIQUE TEIXEIRA DE SOUSA

1-VIDA e PRODUÇÃO

Henrique Teixeira de Sousa viveu quase noventa anos consagrando-se a duas áreas : Medicina, e Escrita. Conhecido como o escritor que deu ao imaginário cabo-verdiano histórias como Ilhéu de Contenda, Contra Mar e Vento, e Capitão de Mar e Terra, Henrique Teixeira de Sousa nasceu na Ilha do Fogo e residia desde a sua juventude em Portugal; morreu atropelado em Oeiras, dia 3 de Março de 2006 .

Ele fez os seus estudos de Medicina em Portugal, concluindo-os em 1945. Em 1946, trabalhou no quadro de saúde do Ultramar, e também como interno do Hospital Central e professor da Escola de Enfermagem em Timor.

No ano seguinte parte para Timor, e em 1949 regressa “ao Fogo” ; lá na sua ilha, ele vai encontrar o edifício construído para ser hospital e infelizmente transformado num albergue dos flagelados pela fome. Implanta finalmente o hospital, e mais tarde uma maternidade. Em 1954, viajou pela França e com uma bolsa de estudos, especializa-se em nutrição (sobre este ponto, ler : “A alimentação e saúde nas ilhas de Cabo Verde”, n.° 92 (Maio 1957) do boletim de Propaganda e Informações). Naquela época, a fome devastava Cabo Verde. Frequentou em Paris o II Curso para a formação de médicos nutricionistas para a África ao Sul do Sara, fazendo os estágios no Hospital de Bichat e no Instituto de Higiene em Paris. Nomeado, no mesmo período, médico-adjunto da missão permanente de Estudo e Combate de Endemias de Cabo Verde e presidente da comissão de nutrição tendo, nessa qualidade, viajado para todas as ilhas. Foi membro titular da Société d’Hygiène Alimentaire de Paris. Participou de várias Conferências Internacionais Médicas, especialmente dedicadas à nutrição.

Ele possui vasta bibliografia dentro desta área científica e também de outras áreas (sociológica, política), todas elas centradas em problemas especificamente cabo-verdianos :

“A emigração para S.Tomé”, n.° 65 (Fev. 1955);
O problema alimentar em Cabo Verde. Praia, Cabo Verde, Imprensa Nacional, 1954.
Cabo Verde e a sua gente. Praia, Cabo Verde, Imprensa Nacional, 1959.
“A estrutura social da ilha do Fogo em 1940”, Claridade n.° 5, Setembro 1947.
“Sobrados, lojas e funcos. Contribuição para o estudo da evolu¬ção social da ilha do Fogo”, n.° 8, Maio 1958.
Ele fica o presidente da Câmara Municipal de S.Vicente de 1959 a 1965 :
“Mais de cinco anos na presidência da Câmara Municipal de S. Vicente”. Ed. do Autor. Águeda, Gráfica Ideal, s/d.
Em 1975, passa a residir em Portugal definitivamente.
Durante a sua produção, surgiram oito obras, tipo romances e contos :
Contra Mar e Vento, Lisboa, Prelo, 1972
Ilhéu de Contenda, Lisboa, Editorial O Século, 1978. Reed. em 1979 pela Europa-América e em 1984 pela Ática (S. Paulo, Brasil),
Capitão de Mar e Terra, Lisboa, Europa-América, 1984;
Xaguate*, Lisboa, Europa-América, 1987
Na Ribeira de Deus*, Lisboa, Europa-América, 1992.
Djunga, Lisboa, Europa-América, 1990.
Entre Duas Bandeiras, Lisboa, Europa-América, 1994 ;
Oh! Mar de Túrbidas Vagas, S. Vicente, Ilhéu, 2005

2- INTENÇÕES

José Manuel Mendes, referiu-se a Teixeira de Sousa “como um ficcionista de largo fôlego, cuja formação científica e humanista o singularizam peculiarmente no contexto das literaturas em língua portuguesa”.

“A memória colectiva não é só chamamento à permanência de conteúdos factuais ou existenciais […]. Ela está também escrita nos gestos, nos hábitos, e nos costumes dos grupos. Como as tradições orais também as tradições materiais são memória”. JODELET, D. cit., p. 56

Jodelet ali nos-explica uma coisa muito conhecida nas literaturas das ilhas (por exemplo, Patrick Chamoiseau, Maryse Condé, Aimé Césaire… como escritores defensores da Negritude ou das “creolidades”). São todos por recolhas da tradição oral que fixam-se em textos, romances, contos, poemas…etc para preservar a memoria.

Ver “Recolhas folclóricas - curcutiçam (ilha do Fogo), n.°s 63 (Dez. 1954) e 67, (Abril 1955) Boletim da Propaganda e da Informação como um exemplo dum tipo de trabalho sobre a memoria nacional.

Em Teixeira de Sousa, o modo de expressão da recordação fixou-se tambem numa narração escrita: a lembrança fica coisa pessoal, mas ela torna-se igualmente porta-voz duma memória colectiva.

Os últimos anos do salazarismo não seriam favoráveis à publicação, pelo que foi só depois do 25 de Abril que começou a percorrer as editoras para a publicação, o que veio a ocorrer em 1978.

Ilhéu de Contenda, a sua obra mais conhecida, adaptada para o cinema por Leão Lopes , surgiu de forma embrionária na segunda metade dos anos 40 e chegou a ter título – Sobrado : “o título era “Sobrado” porque resolvi enfrentar aquela época da ilha do Fogo em que as classes eram distintas. Comecei a escrever e, quando já tinha dois cadernos cheios, reli o que já tinha escrito, não gostei e rasguei tudo. Fiquei, então, à espera de uma oportunidade. Assim, passaram-se anos, até que, 30 anos depois, já com mais maturidade e uma visão mais perfeita do tema, escrevi finalmente o romance. Mas, ao decidir escrever o romance, andei um bocado de tempo indeciso sobre como havia de começar porque eu tinha a firme certeza de que começando iria até ao fim. “ declara o autor. Teixeira de Sousa começa a obra com o seguinte: «Entre gente de sobrado, de loja e de funco, nasci e vivi. Nunca cheguei a perceber bem qual o lugar que me coube nessa sociedade. Por isso, este livro é de todos e para todos.»

Desde criança gostava de ouvir histórias do povo, “para todos”.

Xaguate é a história quase autobiográfica de um emigrante cabo-verdiano que, depois de muitas idas e voltas, acaba por adquirir o dinheiro que lhe permite regressar definitivamente à terra natal, no desejo de cumprir os sonhos da sua juventude. Os anos rolam e os sonhos do passado encontram-se já deslocados no tempo presente.

Djunga e Entre Duas Bandeiras são dois romances, onde certas figuras carismáticas, como Djunga, inspirado na filosofia real de um homem que existiu, se tornam personagens-tipo, representativas de um certo grupo social da pré e pós-independência. Não menos significativos são os seus ensaios, quer de natureza filosófica, quer sociológica. Um outro tema nas obras de Teixeira, “bastante lírico”é uma melancolia amorosa e morna.

3- HOMENAGENS No seu dia de falecimento, o Governo declarou que Teixeira de Sousa “foi um escritor cioso dos valores da cabo-verdianidade e das marcas matriciais do viver cabo-verdiano”.

O ministro da Cultura, por sua vez, salienta que personagens, momentos e aspectos dos seus livros “ficarão para sempre inscritos na memória colectiva dos cabo-verdianos e que, por isso, já são preciosos patrimónios culturais a preservar e valorizar”.

O presidente Pedro Pires define-o como “portador de uma escrita cativante e vigorosa e que lega à cultura cabo-verdiana um património de inexcedível valor no domínio da literatura, impondo-se como um dos expoentes máximos da cabo-verdianidade”.

“… saiu o Senhor dos Passos, queria afinal, um mundo melhor, mais justo, mais cordato.
Pregou a igualdade numa época de privilégios.
Pregou a humildade num império de ostentações. Pregou a liberdade em terras escravizadas pelos romanos. Ergueu a sua voz contra a opressão, a desumanidade, a exploração do homem pelo homem […] Enfim era uma maneira admissível de conceber a personalidade de Cristo”

TEIXEIRA DE SOUSA, H. Contra mar e vento. cit., p. 115.

António Jacinto

Morgana

António Jacinto do Amaral Martins nasceu em Luanda no dia 28 de Setembro de 1924, filho de pais Alfandeguenses, José Trindade Martins e de Maria Cecília Amaral Martins, que como muitos outros filhos da terra procuraram em Angola uma vida mais próspera. O Pai, “Tio Zé”, como lhe chamavam os familiares mais novos, teria chegado em Angola por volta de 1912, na época em que o regime republicano incentivava a colonização da África. Alguns anos mais tarde veio a Portugal para casar e regressou novamente, já com a esposa, a “Tia Micas”, como era conhecida também pelos familiares. Em 1945 eles se mudaram de vez para morar em Luanda.

O casal Amaral Martins teve três filhos e uma filhas. Os dois irmãos do poeta, Humberto e Reinaldo Martins já faleceram, enquanto que sua irmã Natália ainda vive em Luanda.

Concluiu os seus estudos em Luanda, no Liceu Salvador Correia de Sá, não tendo prosseguido os estudos em Lisboa, como era seu desejo. “Se isso tivesse acontecido o curso seria engenharia de minas, como nos confidenciou a prima Maria Cecília. Pelos vistos, ainda chegou a despedir-se dos amigos para vir estudar para Lisboa, mas o pai acabou por mudar de ideias e o jovem António Jacinto acabaria por se empregar como funcionário de escritório.”

Aos vinte anos, António Jacinto já se faz notar no mundo da poesia com o poema “Um perfil” de 1945. O seu estilo desse poema não era o que viria a caracteriza-lo, no entanto podia se notar um certo traço critico e irónico em alguns dos seus textos posteriores.

Embora filho de colonos, António Jacinto teve um percurso de vida essencialmente marcado pelo envolvimento na vida política contra a colonização e o regime fascista que existia em Portugal. Por conseguinte ele foi preso uma primeira vez em 1959 e novamente em 1961, sendo desta vez condenado a 14 anos de prisão (o julgamento aconteceu apenas no ano de 1963) pena que ele cumpriu no célebre campo do Tarrafal, na ilha de Santiago, em Cabo Verde. No ano de 1972 ele foi libertado, mas com residência fixa em Lisboa. No ano seguinte fugiu para Argel, indo depois integrar a guerrilha do MPLA.

“Foi um destacado dirigente daquele movimento de libertação e após a independência de Angola foi Ministro da Cultura, de 1975 a 1978.”

António Jacinto morreu no dia 23 de Junho de 1991 em Lisboa e está enterrado em Luanda.

A sua obra está publicada nos seguintes livros: “Poemas”, 1961, “Vôvô Bartolomeu”, 1979, “Poemas”, 1982, “Em Kilunje do Golungo”, 1984, “Sobreviver em Tarrafal de Santiago”, 1985, “Prometeu”, 1987, “Fábulas de Sanji”, 1988.\\à

Poemas famosos:

O grande desafio
Poema da alienação
Carta dum contratado
Monangamba
Canto interior de uma noite fantástica\ Era uma vez
Bailarina negra
Ah! Se pudésseis aqui ver poesia que não há!

Referências :

Francisco José Tenreiro

Lúcia

Nasceu em São Tomé e Príncipe em 1921, faleceu em 1963, numa altura de Guerra Colonial no continente. Tem uma formação de Geógrafo mas escolheu a poesia para exprimir a nova África.

Foi para Lisboa ainda jovem, na altura em que nos Estados Unidos e na França se ouviam as novas vozes dos intelectuais negros que reclamavam os direitos e queriam proclamar a identidade dos povos africanos. Tenreiro enrolou-se nessa corrente, viveu para promover a cultura da sua terra natal se bem que não renegava os valores adquiridos com a colonização.

Por mais que seja “poeta da negritude, assume uma postura de defesa de todas as minorias étnicas, como é visível no poema “Negro de Todo o Mundo”. A sua poesia exalta o homem africano na sua globalidade, ou seja, a diáspora africana que se propagou por todos os cantos do mundo.

Publicou a sua primeira obra – Ilha de Nome Santo – na colecção coimbrã “Novo Cancioneiro”, integrando-se na corrente neo-realista que então surgia em Portugal. Poeta da mestiçagem, do cruzamento de culturas e de vozes, escreve, na “Canção do Mestiço”, “nasci do negro e do branco / e quem olhar para mim / é como se olhasse / para um tabuleiro de xadrez”, continuando “E tenho no peito uma alma grande, / uma alma feita de adição”. É nessa adição que reside a diferença. Tenreiro não apela a um retorno às origens africanas mas ao respeito das pessoas de todas as cores, de todas as tradições. A sua voz é verdadeiramente a voz do exílio, por um lado, e do entre-cruzamento das culturas e das raças, por outro.

Em 1953, juntamente com o angolano Mário de Andrade, publica, em Lisboa, Poesia Negra de Expressão Portuguesa, uma antologia de textos de novos intelectuais africanos. O próprio nome era já provocação: a africanidade implicava a desestruturação da portugalidade, o que, numa época de ditadura, era no mínimo arriscado fazer. É a busca de uma nova consciência africana.

Em 1963, devido a sua morte, o segundo livro de poesia, Coração em África, concluído um ano antes, não viu publicação.

CANTO DE OBÓ

O sol golpeia as costas do negro

e os rios de suor ficam correndo.

Ardor!

Os olhos do branco

como chicotes

ferem o mato que está gritando…

Só o água sussurante/calmo

corre prao mar

tal qual a alma da terra!

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Sitografia: