Analyse linguistique d'un passage de Luuanda

Texto

Era meio-dia já quase quando começou ficar mais manso,
mesmo com o céu arreganhador e feio, todo preto de nuvens. O
musseque, nessa hora, parecia era uma sanzala no meio da
lagoa, as ruas de chuva, as cubatas invadidas por essa água
vermelha e suja correndo caminho do alcatrão que leva na Baixa
ou ficando teimosa, em cacimbas de nascer mosquitos e barulhos
de rãs. Tinha mesmo cubatas caídas, e as pessoas, para escapar
morrer, estavam na rua com as imbambas, que salvaram. Só que
os capins, aqueles que conseguiam espreitar, no meio das
lagoas, mostravam já as cabeças das folhas lava­das e
brilhavam uma cor mais bonita para o céu ainda sem azul nem
sol.

Análise

  • “quando começou ficar mais manso” : queda da preposição “a” antes de “ficar”.
  • “arreganhador” : desvio lexical, em vez de “ameaçador”, do português “arreganhar”
  • “musseque” : termo local em Angola, significa “bairro de lata”, do kimbundu “mu seke”, “na areia”
  • “parecia era” : queda da conjunção, a norma seria “parecia que era”
  • sanzala : aldeia de trabalhodores, faz pensar ao termo brasileiro senzala que tem o mesmo sentido, palavra kimbundu
  • cubata : casa africana típica, termo kimbundu
  • cacimba : poça d'água, termo kimbundu
  • escapar morrer : queda da preposição, a norma seria “escapar de morrer”
  • as imbambas : palavra africana (kimbundu) usada para dizer bagagem, coisas pessoais
  • os capins : a relva, termo usado também no Brasil, do tupi
  • espreitar : aqui tem o sentido de brotar
  • brilhavam uma cor : normativamente, o verbo “brilhar” não é transitivo como aqui, a norma seria “brinhavam de uma cor