Luuanda

Primeira edição em 1964.

O livro contém três estórias :

  • Vavó Xíxi e seu neto Zeca Santos
  • Estória do ladrão e do papagaio
  • Estória da galinha e do ovo

Em 1965, o júri da Sociedade Portuguesa de Escritores atribuiu o Grande Prémio da Novelística a Luandino Vieira, então desconhecido.

“[…] A questão da fome, a questão da repressão, a questão de surgirem personagens de camadas e classes sociais que, até aí, eram segregadas da literatura, parece-me (hoje, a esta distância, tanto quanto me vejo, até como personagem do meu próprio destino), parecem-me correctas… Quando escrevi o Luuanda a minha preocupação era ser o mais fiel possível àquela realidade. Se a fome, a exploração, o desemprego, surgem com muita evidência, não se trata de uma atitude preconcebida, de uma atitude consciente. É porque isso era - digamos assim - o aquário onde meus personagens e eu circulávamos… A questão da linguagem já não é tão inocente assim… Muito embora não pretendesse fazer uma cópia fiel da linguagem utilizada pelas camadas populares luandenses. Tenho que reconhecer - para o caso do Luuanda - que em certa altura eu achei até que teria um significado político: demonstrar que, na própria língua do colonizador, a nossa diferença cultural nos permitia escrever de modo que era difícil, ao próprio colonizador, entender o nosso código linguístico. Mas essa parte deliberada na criação de uma linguagem é apenas uma excrescência. Porque o meu intuito era (não consegui, com certeza!) criar uma linguagem ao nível literário a partir dos mesmos processos e das estruturas linguísticas bantas da região de Luanda. Que fosse homóloga da linguagem popular e não a sua cópia ou a sua reprodução […].” (Excerto de uma entrevista dada por José Luandino Vieira a Pires Laranjeira, em 1994, para a Universidade Aberta)

Influenciado pelo escritor brasileiro João Guimarães Rosa, foi a partir deste livro que Luandino decidiu mudar de estilo. Abandona o estila relativamùente clássico de Vidas Novas. Usa expressões em kimbundu, e aproxima-se em português da maneira de falar dos Luandenses não somente quando falam os personagens, no estilo direto, mas também no estilo indireto. As pesquisas de MIchel Laban revelaram que Luandino Vieira utiliza mais os processos de criação linguística do povo, do que as próprias palavras e expressões, criando uma língua possível. É, segundo as palavras de Pires Larajeira, “uma autêntica revolução literária, comparável a Ulisses”. Também se compara a Grande Sertão Veredas, de João Guimarães Rosa. Este novo estilo torna difícil e pouco confortável a leitura par o leitor lusófono. As marcas de angolanização da língua são densas e nem sempre muito claras. O leitor é obrigado a reconhecer a diferença. A forma aliás acompanha o conteúdo que também é uma invenção a base de elementos e processos da realidade luandense.

Ponto comum entre os três contos: o que come a avó, o que rouba o Lomelinho, o que motiva a disputa, representa a falta, a necessidade em que vive o povo, a fome.

Vavó Xíxi e seu neto Zeca Santos

É a cigarra e a formiga. Formiga diz-se “xíxi” em kimbundu.

Estória do ladrão e do papagaio

Kamtuta quer dizer “coxo” em kimbundu.

Estória da galinha e do ovo