A música no Brasil e na França

Nous avons choisi de vous présenter ici une mélodie du patrimoine culturel brésilien et français illustrant les rencontres musicales entre Brésil et France.

O Que Sera et Tu verras : la mère et la fille

Il existe des chansons françaises dont les rythmes correspondent à ceux du Brésil. C'est le cas de la chanson de Claude Nougaro intitulée Tu Verras parue en 1978 dans l'album du même nom. Lorsqu'on écoute cette chanson on voyage et on se retrouve au Brésil. Elle traduit,évoque la bonne humeur,l'été ,le soleil,la joie pour certains tout en étant profondément mélancolique pour d'autres. Le ryhtme bossa nova (littéralement nouvelle vague) correspond bien aux paroles de Nougaro (“Tout recommencera”), idée de recommencement qui sied à ravir à ladite “nouvelle vague”.

Les paroles françaises sont en effet celles d'un homme promettant à une femme de changer pour qu'elle l'aime à nouveau mais qui ne parviendra pas à tenir sa promesse. Dans les premiers couplets, “Tout recommencera” est synonyme d'espoir mais il devient par la suite une condamnation à répéter éternellement les mêmes erreurs. Ce retournement de situation illustre bien l'intelligence cynique de Nougaro et la finesse de ses textes.

Claude Nougaro (1929, Toulouse - 2004, Paris) commence à s'intéresser aux rythmes brésiliens dans les années soixante suite à sa rencontre avec le guitariste brésilien Baden Powell, dont il reprend quelques chansons. Cet intérêt est un intérêt profond qui influence grandement sa musique. En 1975 il écrit une chanson intitulée Brésilien.(*) Voilà donc ce qui précède cette adaptation de O Que Sera de Chico Buarque en 1978, soit deux ans suite à la sortie de Dona Flor et ses deux maris à laquelle elle tient lieu de bande originale.

Feita para o filme “Dona Flor e Seus Dois Maridos”, a canção “O Que Será” tem três versões, que marcam passagens diferentes da trama: “Abertura”, “À Flor da Pele” e “À Flor da Terra”. Cantada no filme por Simone, a versão “À Flor da Terra” alcançaria grande sucesso na gravação de Chico Buarque e Milton Nascimento, que abre o elepê Meus caros amigos, um dueto, aliás, que aconteceu por mero acaso. Chico estava na gravadora ensaiando a canção com Francis Hime, quando Milton, de passagem pelo estúdio, ouviu e gostou. Daí surgiu o convite para a gravação, depois retribuído com a participação de Chico num disco de Milton, cantando com ele “À Flor da Pele”. Mas “O Que Será”, em qualquer das versões, é uma obra-prima, no nível das melhores criações de Chico Buarque, com sua melodia forte e sua letra libertária, um tanto ambígua em certos aspectos: “O que será que será / que todos os avisos não vão evitar / porque todos os risos vão desafiar / porque todos os sinos irão repicar / porque todos os hinos irão consagrar…” Em 15.9.92, ao tomar conhecimento do conteúdo de sua ficha no Dops-DPPS, em que há uma análise de “O Que Será”, Chico Buarque declarou ao Jornal do Brasil: “acho que eu mesmo não sei o que existe por trás dessa letra e, se soubesse, não teria cabimento explicar…”

Quando soube, em 1992, que junto à sua ficha lá no DOPS havia uma “análise” da(s) letra(s) de “O Que Será” comentou: “acho que eu mesmo não sei o que existe por trás dessa letra e, se soubesse, não teria cabimento explicar…”

Por Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello, Livro 85 anos de Música Brasileira Vol. 2, 1ª edição, 1997, editora 34

O que será (Abertura)

O que será que lhe dá
O que será meu nego, será que lhe dá
Que não lhe dá sossego, será que lhe dá
Será que o meu chamego quer me judiar
Será que isso são horas dele vadiar
Será que passa fora o resto do dia
Será que foi-se embora em má companhia
Será que essa criança quer me agoniar
Será que não se cansa de desafiar
O que não tem descanso, nem nunca terá
O que não tem cansaço, nem nunca terá
O que não tem limite

O que será que será
Que dá dentro da gente e que não devia
Que desacata a gente, que é revelia
Que é feito uma aguardente que não sacia
Que é feito estar doente de uma folia
Que nem dez mandamentos vão conciliar
Nem todos os unguentos vão aliviar
Nem todos os quebrantos, toda alquimia
Que nem todos os santos, será que será
O que não tem governo, nem nunca terá
O que não tem vergonha, nem nunca terá
O que não tem juízo

O que será (À flor da pele)

O que será que me dá
Que me bole por dentro, será que me dá
Que brota à flor da pele, será que me dá
E que me sobe às faces e me faz corar
E que me salta aos olhos a me atraiçoar
E que me aperta o peito e me faz confessar
O que não tem mais jeito de dissimular
E que nem é direito ninguém recusar
E que me faz mendigo, me faz suplicar
O que não tem medida, nem nunca terá
O que não tem remédio, nem nunca terá
O que não tem receita

O que será que será
Que dá dentro da gente e que não devia
Que desacata a gente, que é revelia
Que é feito uma aguardente que não sacia
Que é feito estar doente de uma folia
Que nem dez mandamentos vão conciliar
Nem todos os unguentos vão aliviar
Nem todos os quebrantos, toda alquimia
Que nem todos os santos, será que será
O que não tem descanso, nem nunca terá
O que não tem cansaço, nem nunca terá
O que não tem limite

O que será que me dá
Que me queima por dentro, será que me dá
Que me perturba o sono, será que me dá
Que todos os tremores me vêm agitar
Que todos os ardores me vêm atiçar
Que todos os suores me vêm encharcar
Que todos os meus nervos estão a rogar
Que todos os meus órgãos estão a clamar
E uma aflição medonha me faz implorar
O que não tem vergonha, nem nunca terá
O que não tem governo, nem nunca terá
O que não tem juízo

O que será (À flor da terra)

O que será que será
Que andam suspirando pelas alcovas
Que andam sussurrando em versos e trovas
Que andam combinando no breu das tocas
Que anda nas cabeças, anda nas bocas
Que andam acendendo velas nos becos
Que estão falando alto pelos botecos
Que gritam nos mercados, que com certeza
Está na natureza, será que será
O que não tem certeza, nem nunca terá
O que não tem conserto, nem nunca terá
O que não tem tamanho

O que será que será
Que vive nas ideias desses amantes
Que cantam os poetas mais delirantes
Que juram os profetas embriagados
Que está na romaria dos mutilados
Que está na fantasia dos infelizes
Que está no dia a dia das meretrizes
No plano dos bandidos, dos desvalidos
Em todos os sentidos, será que será
O que não tem decência, nem nunca terá
O que não tem censura, nem nunca terá
O que não faz sentido

O que será que será
Que todos os avisos não vão evitar
Porque todos os risos vão desafiar
Porque todos os sinos irão repicar
Porque todos os hinos irão consagrar
E todos os meninos vão desembestar
E todos os destinos irão se encontrar
E mesmo o Padre Eterno que nunca foi lá
Olhando aquele inferno, vai abençoar
O que não tem governo, nem nunca terá
O que não tem vergonha, nem nunca terá
O que não tem juízo

(*) La chanson “Brésilien” est en effet une version française d'une chanson brésilienne de Gilberto Gil et Capinan qui a pour titre original “Viramundo”.