O caso do kimbundu

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Córdoba, Argentina, 11 de novembro de 2014, na Universidad Nacional de Córdoba
Jornadas Internacionais Descobrindo Culturas em Língua Portuguesa

Jean-Pierre Chavagne — jpc Université de Lyon

Mesa coordenada “Políticas de contato, extinção e resgate da diversidade linguístico-cultural no âmbito da lusofonia”

Coordena: Maria Lúcia Segabinazi Dumas - Expositores: Tânia Rezende, Vítor Jochms Schneider


Notas

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Programa das jornadas: http://www.falemosportugues.com/segundasjornadasdclp2014/004_programacao.html

Resumo proposto : Angola, um dos PALOPs (Países africanos de língua oficial portuguesa), vive uma situação linguística única em África. Uma língua europeia, o português, é a língua mais falada do país e tornou-se a língua materna da maior parte da população, com tendências ao monolinguismo em Luanda, a capital. O perfil linguístico geral dos outros países africanos, inclusive os outros PALOPs, é bem diferente : a esmagante maioria das populações fala em casa e para os usos correntes da vida íntima uma língua vernacular e um língua veicular não europeia, e reserva as línguas europeias para a vida administrativa. São sociedades plurilingues. Em Angola, progressivamente, a língua portuguesa se fez língua vernacular, com um processo que começou no século 16. Existiram línguas crioulas, mais hoje não há crioulos em Angola. Acelerou-se o processo durante o fim do século 20. Entre as dez famílias de línguas bantu de Angola, o kimbundu é a língua da região de Luanda, que conviveu com o português desde o século 16, e foi falada até no Brasil e nomeadamente durante o século 17, e naturalmente em Lisboa. Interações entre o kimbundu e o português continuam hoje, mas paralelamente, o kimbundu deve ser considerado como em vias de extinção, mais do que as outras línguas de Angola, também ameaçadas. À lusitanização de Angola, devido principalmente à guerra e à vontade política de criar uma unidade nacional, acrescentou-se a luandinização, verdadeiro êxodo que trouxe à capital população de todo o país, que fez com que é quase impossível encontrar hoje em Luanda locutores do kimbundu. Português e kimbundu tiveram influências mútuas. Na história da língua portuguesa, o kimbundu é a língua que mais o acompanhou, e mais recebeu do português, a parte que o kimbundu deu ao português além do vocabulário, sendo ainda objeto de pesquisas. Para docentes e pesquisadores nas áreas do português e das culturas lusófonas, Angola e o kimbundu estão com certeza à espera de mais interesse.

Por que falar do kimbundu?

  • razão pessoal
  • “ninguém” o faz
  • distorção

Vivi em Angola alguns anos na zona onde se fala kimbundu.

Acontece que os dados e os recursos sobre o kimbundu são difíceis de encontrar porque poucas pessoas se interessam pelo kimbundu.

E a uma distorção entre o relativo desinteresse e a relativa importância do kimbundu na história e na vida da língua portuguesa.

O português africano

  • 5 situações diferentes
  • crioulos em 3
  • o caso de Angola
  • a falta de censo em Angola
  • ausência de política linguística

—-

Notes

A sigla PALOPs.

Frequentemente notei que as representações que se tem das situações linguísticas dos Palops são ou falsas ou desfocadas.

Os Palops são todos diferentes do ponto de vista linguístico. Moçambique e Angola são os mais parecidos, mas fala-se muito menos português em Moçambique do que em Angola (25%/95%). Os crioulos só existem na Guiné-Bissau (o Palop que fala menos português), em Cabo Verde e em São Tomé.

O caso angolano é muito particular entre os Palops mas também em todo o continente africano : fala-se mais uma língua europeia na vida cotidiana do que em qualquer outro país africano.

Faz este ano 44 anos que não houve censo publicado sobre Angola. O censo fez-se em 2014 mas ainda não se publicou nenhum dado sobre a população. Para Moçambique or exemplo sabemos tudo desde 1992. Vamos ter outro problema depois da eventualpoublicaçõ dos resultados do censo : os bnomes das línguas, nem todas aparecem, o lingala por exemplo. Temos no formulário : português, umbundu, kimbundu, kikongo, cokwe, nganguela, nhaneca, fiote, kwanhama, luvale, muhumbi, outra, surdo/mudo.

Embora não haja censo, sabe-se alguma coisa da situação numérica linguística do país, esperando ansiosamente estatísticas mais oficiais. Corremos portanto o risco de dar números exagerados num sentido ou no outro.

As línguas bantu

  • 450/500
  • grande extensão
  • 10 famílias em angola
  • uma delas é o kimbundu

Notes

O número de línguas é um dado variável, mas existiriam cerca de 450 línguas bantu. É mais um grupo do que uma família, pertencente a um grupo maior que é o phylum Niger-Congo. A mais conhecida é o suaili.

O kimbundu

  • 21 dialetos
  • 5 tons, aglutinante : kingamusangeleku
  • na região de Luanda (mapa de 1970)
  • estatísticas falsas

Notes

Também varia conforme os autores o número de dialetos do kimbundu, de 11 a 21.

O Kimbundu tem tons e acentos, e é aglutinante, uma só palavra para dizer “não o encontrei lá” : “kingamusangeleku”. As 20 classes nominais características das línguas bantu (cada radical tem 2 prefixos, um para o singular e um para o plural), são 10 as categorias correspondentes ao nosso masculino e feminino.

É consideravelmente exagerado o que se encontra sobre o número de falantes do kimbundu. Os erros constantes sobre o número de locutores demonstram o desinteresse. Os mapas indicam também no Norte ou no Leste, erradamente.

Preço do kimbundu

  • língua de mais interações
  • no tempo e no espaço
  • falado no Brasil no séc. 17
  • oratura, literatura

Notes

O kimbundu tem tido interações com o português na região de origem, mas também no temp da escravatura na viagem e no Brasil sobretudo no século 17. Escreveu-se no Brasil a primeira gramática do kimbundu e publicou-se me Lisboa em 1697. (Pedro Dias, Arte da língua de Angola). Emilio Bonvini explica como o kimbundu e o português conviveram durante mais de um século no Brésil (séc. 17). Em Lisboa também houve e há ainda contactos entre as duas línguas. Os empréstimos do kimbundu ao português são numerosíssimos e o português também fez alguns empréstimos que sobreviveram : caçula, carimbo, marimbondo, camundongo, bunda, cambada, mas a influência sobre a fonologia do português do Brésil, até sobre a sintaxe (lugar do pronome, uso de “em”).

O texto mais conhecido em kimbundu e mais difundido com tradução em português: Muimbu ua Sabalu

Modelos linguísticos

  • monolingu(ista) (herdado do Estado nacional europeu)
  • plurilíngue (das nações africanas)

Notes

Os angolanos são bantúfonos lusofonizados. O que se nota é que quanto mais se fala português nos Palops menos se falam as línguas africanas, o que quer dizer que as línguas europeias entram dificilmente numa situação plurilingue. O monolinguismo é político. O plurilinguismo é natural.

Razões para o abandono

  • ausência na educação
  • complexificação oficial
  • luandinização e outras enormes misturas
  • nenhum interesse na promoção social
  • unidade nacional abstrata

Notes

Raras experiências de aprendizagem da leitura em línguas nacionais.

Tentativa de modernização por linguistas nunca aplicada. Tentativa em 1980 de racionalizar a escrita de várias línguas (contra as tradições já estabelecidas). Otros exemplos existem na África. O kimbundu escreve-se tradicionalmente mais ou menos à portuguesa.

Enorme mistura da população devido às guerras contínuas entre 1961 e 2002. Deslocados, refugiados, casamentos mistos, invasões,…

O kimbundu não entra na vida social. Não tem função par a promoção social.

A língua portuguesa é também o símbolo forte e quase único duma abstração : a unidade nacional.

O que vamos fazer com o kimbundu?

  • reconhecer
  • estudar
  • pesquisar

Notes

Compete aos lusitanistas reconhecer o papel do kimbundu nos estudos de língua portuguesa. Comparativamente à língua árabe, ou ao ioruba, existe um desiquilibrio.

A pesquisa sobre as relações do kimbundu com o português ainda é um campo aberto.

Poder-se-iam criar aulas de kimbundu como se criam de ioruba ou de guarani, não tão para aprender a língua, mas para conhecer melhor os amigos, parentes, companheiros, da língua portuguesa.

Sitografia

Bibliografia

  • BONVINI, Emilio, “Línguas africanas e português falado no Brasil”. In: FIORIN, J.L. e PETTER, M. (orgs.) África no Brasil: a formação da língua portuguesa, São Paulo, Contexto, 2008.
  • CHAVAGNE, Jean-Pierre, “Le kimbundu oublié des lusitanistes et des politiques”, in … Ler em linha
  • N'SONDE, Jean de Dieu, Parlons kimbundu, Paris, L'Harmattan, 2014